A idéia
é simples: substituir os alimentos da dieta mediterrânea por ingredientes
brasileiros, mais baratos, respeitando as características regionais do País.
Foi assim que nasceu a dieta cardioprotetora brasileira, num projeto do
Hospital do Coração (HCor) em parceria com o Ministério da Saúde.
Os resultados,
publicados em dezembro na revista científica Clinics, são otimistas: mostraram
que os pacientes que receberam a dieta adaptada conseguiram perder peso e
reduzir os índices de pressão arterial, a glicemia, o triglicérides e o índice
de massa corporal (IMC).
Pacientes dos
grupos-controle, que receberam a dieta mediterrânea, também melhoraram os
índices, mas de maneira menos intensa. Agora a pesquisa será ampliada e
realizada em 40 hospitais do Brasil, exclusivamente com pacientes do SUS.
A dieta
mediterrânea é reconhecida por seu efeito protetor ao coração. Ela é composta
por alimentos típicos de países banhados pelo Mar Mediterrâneo e baseada no
alto consumo de peixes, frutas, legumes, cereais e azeite. Também estimula o
consumo moderado de vinho.
Como parte
desses alimentos é importada e cara para a população em geral, a proposta do
ministério ao HCor foi a de criar um cardápio que conseguisse adaptar a dieta
mediterrânea aos hábitos alimentares brasileiros, especialmente às pessoas das
classes C e D, e testar se essa adaptação promoveria o mesmo efeito
cardioprotetor.
"Essa é uma
dieta direcionada para um público mais vulnerável, por isso precisava de uma
abordagem especial. A gente espera aumentar a adesão por ser financeiramente
mais acessível, já que valoriza alimentos regionais", diz Eduardo
Fernandes Nilson, coordenador-substituto de Alimentação e Nutrição do
Ministério da Saúde.
A equipe de
nutricionistas do HCor adaptou mais de cem receitas à realidade brasileira:
salmão e atum foram trocados por pescada e sardinha; azeite extravirgem por
óleo de soja; nozes por castanhas do Pará; queijo branco no lugar do amarelo; e
leite desnatado em vez de integral.
"Temos
grande diversidade de legumes, verduras, frutas e peixes. Selecionamos esses
alimentos, disponíveis no Brasil inteiro, e adequamos para uma dieta",
afirma Maria Beatriz Ross, nutricionista do Hcor.
Bandeira do
Brasil
O cardápio
adaptado contempla todos os tipos de alimentos. O diferencial é que eles foram
divididos em três cores, de acordo com a bandeira brasileira: verde (frutas,
verduras, legumes e desnatados), amarelo (pães, massas, arroz e batata) e azul
(carnes, peixes e aves). A idéia é pensar na bandeira na hora de montar o
prato, respeitando a proporção das cores.
"Alimentos
do grupo verde devem ser consumidos em maior quantidade, os amarelos de forma
moderada e os do grupo azul em menor quantidade. Usamos a bandeira como
referência para facilitar o entendimento e a adesão dos pacientes", diz Beatriz.
Para iniciar o
projeto-piloto, o hospital selecionou 120 pacientes após evento cardiovascular.
Eles foram divididos em três grupos: um recebeu a dieta adaptada e orientação
da nutricionista toda semana; outro recebeu a dieta mediterrânea e orientação
semanal; e o último recebeu dieta mediterrânea e acompanhamento nutricional
mensal.
Eles foram
monitorados por três meses. "A idéia era avaliar os efeitos bioquímicos
nos pacientes que receberam a dieta adaptada e descobrir a influência do
acompanhamento da nutricionista no processo", diz.
Segundo Beatriz,
os resultados da fase-piloto são animadores porque mostram redução dos fatores
de risco em todos os pacientes do grupo que recebeu a nova dieta. "O
número de pessoas com sobrepeso e obesidade no grupo que teve a intervenção da
dieta adaptada caiu, o que não aconteceu de maneira significativa nos outros
grupos."
A redução da
pressão arterial também surpreendeu as pesquisadoras. "Todos tomam
medicação para controlar a pressão. Ainda assim, os índices melhoraram, o que
mostra que uma alimentação saudável e acessível pode ajudar a pessoa a reduzir
o uso de remédios", avalia.
Carlos
Magalhães, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo
(Socesp), apóia a proposta. "Por enquanto, a dieta mediterrânea é a que
mostra melhores resultados na prevenção de eventos cardiovasculares. Se
conseguirmos adaptá-la à nossa realidade, será muito mais fácil conseguir a
adesão da população", diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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