domingo, 8 de maio de 2011

No bico do revólver



Alagoas, Espírito Santo, Pernambuco, Bahia, Pará e Paraíba, nessa ordem, lideram o ranking dos estados com maior taxa de homicídios por armas de fogo para cada grupo de 100 mil habitantes. Nesses estados, em que ainda predomina a cultura da pistolagem, o uso indiscriminado de armas de fogo está diretamente relacionado ao aumento da violência. Dados da pesquisa divulgados nessa quinta-feira (5) pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) confirmam a relação causa e efeito do uso de arma de fogo e do aumento da violência.

Segundo a pesquisa, no Espírito Santo - que é também o segundo estado mais violento do Brasil – a taxa de homicídios por armas de fogo atinge o assustador índice de 44 por 100 mil habitantes, de acordo com dados de 2009. Alagoas segue na liderança com 49/100 mil.

Para se ter uma ideia da gravidade da taxa capixaba, São Paulo ostenta, segundo a pesquisa, o invejável índice de 9,3/100 mil. No Rio de Janeiro, que já figurou por muitos anos como um dos estados mais violentos do Brasil, a taxa não chega à metade da capixaba: 20/100 mil. Em Minas Gerais, que fecha a relação dos estados do Sudeste, a taxa é de 12/100 mil, pouco mais de um quarto da capixaba.

Não por acaso, os estados que hoje encabeçam a lista da pesquisa como os mais letais, guardam histórias de coroneis valentões e pistoleiros de aluguel que faziam “justiça” no bico do revólver, à revelia da lei e em conluio com um poder público omisso e tolerante.

Dos seis mais violentos, o Espírito Santo é o único que pertence geograficamente à Região Sudeste (Pará, no Norte), mas que não nega o seu “DNA nordestino”, invariavelmente atrelado à cultura da pistolagem.

De acordo com o estudo da CNM, nesses estados, em média, de cada 10 homicídios registrados em 2009, oito foram praticados com armas de fogo. O índice está acima da média nacional. Em 1996, a participação das armas de fogo no total de homicídios no Brasil era de 59%. No final da década de 1990 esse percentual pulou para 62,7% - ou seja, para cada 10 homicídios, seis eram praticados com armas de fogo. Em 2007, essa proporção já passava da casa dos 70% - ano de pico na proporção de homicídios praticados com armas de fogo no País.

Quando a pesquisas faz um recorte do uso de armas de fogo nas capitais, mais uma vez, o Espírito Santo recebe destaque (negativo) especial. Ao lado de Salvador, Vitória é a única capital que registrou em 2009 mais de 90% de homicídios por arma de fogo: de cada 100 pessoas assassinadas na Capital, mais de 90 foram vítimas de arma de fogo.

O estudo também aponta que a presença de armas de fogo em casa representa um risco de morte por homicídio maior para as mulheres do que para os homens. Essa conclusão é apresentada em alguns estudos específicos e justifica-se, em grande parte, em razão das características específicas dos homicídios de mulheres, que se dão preferencialmente no espaço doméstico.
Geralmente, o autor do crime é o próprio parceiro, ex-companheiro ou familiar próximo.

De cada dez mulheres assassinadas no Estado, cerca de seis foram mortas com arma de fogo. De acordo com a pesquisa, em 2009, um total de 214 mulheres foram vítimas de homicídio no Espírito Santo, mais de 60% por arma de fogo. Os números conferem ao Estado a quinta posição entre os que mais matam mulheres à bala, atrás apenas de Alagoas, Paraíba, Bahia e Pernambuco.

O estudo, que analisou o uso de arma de fogo e aumento da violência na última década no Brasil, mostrou ainda que nesse período cerca de 500 mil pessoas morreram em decorrência do uso de armas de fogo. O estudo revelou também que a quantidade de homicídios por armas de fogo não caiu nessa década, indo de 30.865 mortes em 2000 para 35.556 em 2009 – média de 97 mortes por dia neste último ano analisado.

Para os pesquisadores, é um contexto de guerra em um país que não está em guerra, mas que tem 16 milhões de armas de fogo circulando pelas mãos de sua população, de forma legal e ilegal.

Hoje, sete em cada dez homicídios são cometidos com armas de fogo, proporção bem diferente do começo da década de 1990, quando eram cinco em cada dez. A partir do ano 2000 passou a haver um aumento mais incisivo da contribuição das armas de fogo para as mortes por homicídio, proporção que alcançou 71,6% em 2007.

Nenhum comentário:

Postar um comentário